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quarta-feira, 2 de julho de 2014

CRÔNICA: ENCHENTE E INUNDAÇÃO EM NOSSA CIDADE

“E agora José?...”



Capinzal SC , 26 de junho de 2014.

      Sou moradora ribeirinha do rio Capinzal. Logo ao amanhecer abro a porta da sacada do meu quarto, onde se desdenha na paisagem o pacato rio Capinzal e sua devastada mata ciliar e à esquerda é margeado por pura pedra cimentada.

      Porém, neste dia 26/06/2014, deslumbra-se ao meu olhar matinal cotidiano, um manto alargado, barrento, bufando em forte correnteza de água revolta, num volume espantoso, antagônico ao habitual e calmo riozinho  afluente do nosso Rio do Peixe, rio este que divisa as  cidades de Capinzal e Ouro, desembocando na Bacia do rio Uruguai.

      Na madrugada do anteriormente referido dia, o som harmonioso da água que escorre livremente, no leito de um rio, embalando um diário repouso magno, agraciado som da natureza, agraciados somos, por morar às  margens de um rio com seus vivos murmúrios, flagrando saracuras com suas  saracurinhas a piriricar alegremente em seu habitat natural,  não neste dia!

      O som hoje é da força da natureza que move as águas escuras, fortaleza imensurável, que barreiras humanas são em vão. Avisto logo ali um muro despencado ao léu, troncos enormes descem na correnteza, batem no ciclope e assustam o silêncio da madrugada. Na insônia causada pelos sobressaltos vem no pensamento o flagelo da enchente e da inundação, agora não só no Jornal Nacional, como notícia distante, mas aqui na nossa cidade de Capinzal SC situada na região Sul do Brasil, na América do Sul.

      Houve na tarde deste dia, comerciantes e moradores, que prevenidos, retiraram mercadorias e móveis de seus estabelecimentos em vários locais críticos de nossa cidade, onde a água do rio represa e invade, penetra sem que haja tempo para retirar do local... “a história e patrimônio de uma vida”, talvez.

      Olhares de antigos moradores se interrogam ao constatar o aumento contínuo das águas. Vários locais de nossa cidade inundados, avalanches, vias interditadas, muros e pavimentações asfálticas em risco, famílias deixando suas casas, casa comerciais alagadas e de portas fechadas, mercadistas retirando caminhões de mercadorias dos estabelecimentos. Cidadãos relatando sobre imóveis alagados até a altura das janelas, sem que houvesse dado tempo para retirar móveis e pertences. Uma vizinha disse-me: -A minha casa de sítio ficou alagada e ilhada, avistei meu sofá novo boiando ao longe em meio a inundação, sem pensar no freezer, roupeiro e tudo... Tudo que lá deve estar em meio a lama e desolação de uma enchente... Da inundação...

      A calamidade na cidade é evidente, sem saber ainda o que está por vir ou por acontecer se a chuva não der trégua.

      O nosso atual prefeito Andevir  Isganzela, decretou estado de emergência na cidade de Capinzal, as aulas foram canceladas, a Defesa Civil está em alerta, as pessoas foram convidadas a permanecer em suas residências, conscientes de que ali estarão mais seguras. Casas comerciais, muitas vazias e de portas fechadas no aguardo dos acontecimentos...

       Pessoas, muitas pessoas, de bota, capa e guarda-chuva andando a pé pela cidade a contemplar assombrados a inundação que se avista desde a  área de Lazer Arnaldo Favorito, área ribeirinha ao Rio do Peixe, onde atualmente há quadras esportivas, recém reestruturadas, pintadas nas cores da Copa Brasil, academia ao ar livre, centro de eventos, um restaurante tradicional da cidade, a própria vegetação nativa e ornamental, estão submersas e ao longe parecem estar num imenso mar de lama. Inundação que se estendia neste dia 27/06 até próximo a nosso terminal rodoviário. Além de a inundação estar em estabelecimentos centrais ladeados pelo rio Capinzal que vai represando e... Invadindo de lama... Lama, flagelo da inundação.

      [...]

Será uma reprise da enchente de 1983?

Atualidade: 2014

 Passado: 1983

31 anos depois?!!...

      Naqueles idos anos nossos rios ganhavam semelhante volume de água após dias e dias de chuvas intensas ou contínuas e, hoje espantosamente constato, como moradora ribeirinha do rio Capinzal que ele avoluma-se incrívelmente em poucas horas apenas.

      _O que estará acontecendo?

      _Será a chamada “vingança da mãe natureza?!!...

      As pegadas do bicho homem são catastroficamente cadastradas na agenda do tempo... Tempo vai... Tempo vêm...

      Estaremos vivendo num tempo de constatação do velho dito popular: “Onde a água, deixa o cisco,  um dia ela volta para recolhê-lo”, doce e amarga reminiscência tenho neste momento, ao lembrar que meu saudoso pai proferiu esta frase em 1983 lembrando de inundações e enchentes anteriores...

“E agora, José?!!!...

Capinzal, 27 de junho de 2014... A chuva continua...

      Ao abrir temerosamente a porta da sacada do meu quarto, o coração palpita diante do que vejo, palpita mais aliviado, pois exatamente às 6h , neste momento, o rio Capinzal demarca expressiva baixa aqui nas imediações e fim da rua Antonieta de Barros. Baixaram as revoltas, barrentas e fétidas águas com cheiro apodrecido de esgoto e lama. Porém, o tempo apresenta-se escuro e chuvoso ainda.

      Agora olho para o relógio, são 8h da manhã, dia 27/06, estou ao computador onde escrevo esta crônica real, que, diga-se de passagem, aqui estou a findar, mas a enchente não findou, o pânico e o flagelo da inundação continua, há previsões nada otimistas do serviço metereológico, com mais chuvas e  possíveis desabamentos para SC, nosso estado. Neste momentâneo findar desta crônica real, que como possível sobrevivente da catástrofe natural, espera um final feliz para os próximos dias, ou melhor, para o  nosso “dia seguinte”, com um lembrete desta escritora ocasional relatando a inundação da minha cidade: “Na natureza, ainda prevalece, desde os primórdios da civilização, a lei olho por olho, dente por dente, por isso, preserve, seja um cidadão consciente. Cuide de seu lixo, não desmate, não pratique queimadas, não jogue no rio sofá velho, geladeira usada, vaso sanitário quebrado, litros, sacolas, cadeiras quebradas. Eu, moradora ribeirinha as tenho visto boiando... Não nesses dias de inundação, mas em dias que paro para um olhar crítico para o nosso rio Capinzal que carrega em seu leito um pouco da história de nossa cidade. “E agora José, até quando?!!!... (Professora Evani Riffel)

 
 

 

     

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