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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

CRÔNICA: UM ESTRANHO VISITANTE AO ALVORECER

Preâmbulo de um inverno pitoresco europeu foi o que presenciamos e experimentamos na região Sul brasileira de junho a agosto neste ano de 2011, com temperaturas altamente negativas, até -30º, e neste dia 09 de agosto, terça-feira, atingidos ao alvorecer por um forte ciclone, um íngreme despertar matinal.
O protagonista do enredo, desta história real, se por vezes quieto e invisível, chega neste dia visível e personificado, uivando o personagem num palco urbano, rural, abrangente regional estréia uma visita indesejada.
Relatando cronologicamente o que assisti de camarote:
Acordo no habitual horário, esmerando o tempo de organizar o pensamento, roupas e materiais imprescindíveis para a labuta diária. Era precisamente 6 horas da manhã, terça-feira, 09 de agosto, quando uma forte rajada de chuva bateu moleca na porta de vidro da sacada do meu quarto, pingos e pingões iluminados pela réstia de luz que vinha da iluminação da rua, parecendo pingos de luz perolada, uma forte pancada de chuva que persistiu por alguns rápidos minutos. Sucedeu então, um silêncio escuro.
No corriqueiro hábito de cumprir horários, às 06h15min abro a porta para a rua e vacilo diante do no apagão: -Volto ou prossigo?
Sem muito pestanejar dirijo-me ao ponto de ônibus. A luz retorna atrasada, apressada e. pimba: novo apagão. “Uma pedra no caminho” penso em voltar e não dá mais.
Escuridão total e o visível personagem inoportuno arrancam meu guarda-chuva, antes uma perfeita simetria, agora um amontoado de hastes metálicas. O vendaval é apavorante, procuro angustiada e com olhar meticuloso por um abrigo, sou marinheira de primeira viagem, nunca antes vivi e vi uma tempestade fazendo parte do cenário ao vivo. O filme que desenrola-se aos meus olhos é perigosamente real: placas e toldos arrancados e alguns e algumas enormes vacilam ora a direita, ora a esquerda, lixões dançando ao sabor do vendaval junto ao transitar de alguns carros, amanhã prevejo que o lixão da Maria foi parar na rua do João., sem falar de ambos toda destelhada. Pânico e escuridão, ouço e logo avisto ao longe uma enorme porta da garagem que bate incessantemente ao embalo do vento forte, coberturas de casa que se deslocam, voam, revoam e...estilhaços ao chão ou espatifam-se nos vidros da casa vizinha.
Estranho, tanta coisa acontecendo na rua, nas casas, na cidade e não vejo nenhum vulto humano, apenas poucos carros transitam apressados.
Ora, enfim, não estou só. Avisto uma figura humana que traz ou trazia o guarda-chuva armado e que se espaventa em fragmentos metálicos. Abas solidárias avistamos o coletivo que chega e embarcamos em apressado alívio.
O vento deu uma trégua, mas ainda é forte, observo pelo vitral árvores que se dobram, balançam, algumas quebradas, outras enormes arrancadas pela raiz, postes quebrados e rede elétrica danificada, guaritas públicas destruídas, calhas retorcidas e lançadas ao longe, parabólicas caídas, muitas delas, casa descobertas, telhas quebradas no rodamoinho do vento lançadas por todo lado. E... Numa rua qualquer, um beco, avisto alvas peças de roupa espalhadas na lama, era uma vez um varal.
Ufa, o vento cessou. Desço e nas falas alvoroçadas já na entrada da escola relatos da tempestade que assisti de camarote na guarita do Ginásio Dilleto Bertaiolli, ao pé do banco, recostada, encolhida e como testemunha assustada, ao amanhecer do dia 09 de agosto de 2011.
No enredo real o protagonista movido pela imensurável força da natureza devastou, invadiu, destruiu e não foi detido por nenhum moderno sistema de controle tecnológico nem por qualquer força bruta humana braçal ou mecanizada e na carta magna de qualquer nação nenhum artigo de lei do direito penal o enquadra, e ele é julgado culpado sim.
Resta a nós, habitantes do planeta terra, uma reflexão:
Quem é o culpado que protagonizou a sequência das catástrofes naturais que se enredam no planeta e com futuras previsões ainda mais freqüentes e catastróficas?
Até quando o ser humano ficará assistindo de camarote?..

Professora Evani Riffel

Um comentário:

  1. Tanto mãe (Ivani Riffel) quanto filha (Tatiane Riffel), ambas de um talento indescritível para a escrita, nessa linhas relatadas a cima, imagino-me no lugar dela, presenciando o que nunca vira antes. Felizmente neste momento inédito, eu estava aqui em minha casa, pensando se teria coragem de sair, como ela teve.

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