Capinzal SC ,
26 de junho de 2014.
Sou moradora
ribeirinha do rio Capinzal. Logo ao amanhecer abro a porta da sacada do meu
quarto, onde se desdenha na paisagem o pacato rio Capinzal e sua devastada mata
ciliar e à esquerda é margeado por pura pedra cimentada.
Porém, neste dia
26/06/2014, deslumbra-se ao meu olhar matinal cotidiano, um manto alargado,
barrento, bufando em forte correnteza de água revolta, num volume espantoso, antagônico
ao habitual e calmo riozinho afluente do
nosso Rio do Peixe, rio este que divisa as cidades de Capinzal e Ouro, desembocando na
Bacia do rio Uruguai.
Na madrugada do
anteriormente referido dia, o som harmonioso da água que escorre livremente, no
leito de um rio, embalando um diário repouso magno, agraciado som da natureza,
agraciados somos, por morar às margens
de um rio com seus vivos murmúrios, flagrando saracuras com suas saracurinhas a piriricar alegremente em seu
habitat natural, não neste dia!
O som hoje é da
força da natureza que move as águas escuras, fortaleza imensurável, que
barreiras humanas são em vão. Avisto logo ali um muro despencado ao léu,
troncos enormes descem na correnteza, batem no ciclope e assustam o silêncio da
madrugada. Na insônia causada pelos sobressaltos vem no pensamento o flagelo da
enchente e da inundação, agora não só no Jornal Nacional, como notícia
distante, mas aqui na nossa cidade de Capinzal SC situada na região Sul do
Brasil, na América do Sul.
Houve na tarde
deste dia, comerciantes e moradores, que prevenidos, retiraram mercadorias e
móveis de seus estabelecimentos em vários locais críticos de nossa cidade, onde
a água do rio represa e invade, penetra sem que haja tempo para retirar do
local... “a história e patrimônio de uma vida”, talvez.
Olhares de
antigos moradores se interrogam ao constatar o aumento contínuo das águas. Vários
locais de nossa cidade inundados, avalanches, vias interditadas, muros e
pavimentações asfálticas em risco, famílias deixando suas casas, casa
comerciais alagadas e de portas fechadas, mercadistas retirando caminhões de mercadorias
dos estabelecimentos. Cidadãos relatando sobre imóveis alagados até a altura
das janelas, sem que houvesse dado tempo para retirar móveis e pertences. Uma
vizinha disse-me: -A minha casa de sítio ficou alagada e ilhada, avistei meu
sofá novo boiando ao longe em meio a inundação, sem pensar no freezer, roupeiro
e tudo... Tudo que lá deve estar em meio a lama e desolação de uma enchente...
Da inundação...
A calamidade na
cidade é evidente, sem saber ainda o que está por vir ou por acontecer se a
chuva não der trégua.
O nosso atual
prefeito Andevir Isganzela, decretou
estado de emergência na cidade de Capinzal, as aulas foram canceladas, a Defesa
Civil está em alerta, as pessoas foram convidadas a permanecer em suas
residências, conscientes de que ali estarão mais seguras. Casas comerciais,
muitas vazias e de portas fechadas no aguardo dos acontecimentos...
Pessoas, muitas pessoas, de bota, capa e
guarda-chuva andando a pé pela cidade a contemplar assombrados a inundação que se
avista desde a área de Lazer Arnaldo
Favorito, área ribeirinha ao Rio do Peixe, onde atualmente há quadras
esportivas, recém reestruturadas, pintadas nas cores da Copa Brasil, academia
ao ar livre, centro de eventos, um restaurante tradicional da cidade, a própria
vegetação nativa e ornamental, estão submersas e ao longe parecem estar num
imenso mar de lama. Inundação que se estendia neste dia 27/06 até próximo a
nosso terminal rodoviário. Além de a inundação estar em estabelecimentos
centrais ladeados pelo rio Capinzal que vai represando e... Invadindo de lama...
Lama, flagelo da inundação.
[...]
Será uma reprise da enchente de 1983?
Atualidade: 2014
Passado: 1983
31 anos depois?!!...
Naqueles idos
anos nossos rios ganhavam semelhante volume de água após dias e dias de chuvas
intensas ou contínuas e, hoje espantosamente constato, como moradora ribeirinha
do rio Capinzal que ele avoluma-se incrívelmente em poucas horas apenas.
_O que estará
acontecendo?
_Será a
chamada “vingança da mãe natureza?!!...
As pegadas
do bicho homem são catastroficamente cadastradas na agenda do tempo... Tempo
vai... Tempo vêm...
Estaremos
vivendo num tempo de constatação do velho dito popular: “Onde a água, deixa o
cisco, um dia ela volta para
recolhê-lo”, doce e amarga reminiscência tenho neste momento, ao lembrar que
meu saudoso pai proferiu esta frase em 1983 lembrando de inundações e enchentes
anteriores...
“E agora, José?!!!...
Capinzal, 27 de junho de 2014... A chuva continua...
Ao abrir
temerosamente a porta da sacada do meu quarto, o coração palpita diante do que
vejo, palpita mais aliviado, pois exatamente às 6h , neste momento, o rio
Capinzal demarca expressiva baixa aqui nas imediações e fim da rua Antonieta de
Barros. Baixaram as revoltas, barrentas e fétidas águas com cheiro apodrecido
de esgoto e lama. Porém, o tempo apresenta-se escuro e chuvoso ainda.
Agora olho
para o relógio, são 8h da manhã, dia 27/06, estou ao computador onde escrevo
esta crônica real, que, diga-se de passagem, aqui estou a findar, mas a
enchente não findou, o pânico e o flagelo da inundação continua, há previsões
nada otimistas do serviço metereológico, com mais chuvas e possíveis desabamentos para SC, nosso estado.
Neste momentâneo findar desta crônica real, que como possível sobrevivente da
catástrofe natural, espera um final feliz para os próximos dias, ou melhor,
para o nosso “dia seguinte”, com um
lembrete desta escritora ocasional relatando a inundação da minha cidade: “Na
natureza, ainda prevalece, desde os primórdios da civilização, a lei olho por
olho, dente por dente, por isso, preserve, seja um cidadão consciente. Cuide de
seu lixo, não desmate, não pratique queimadas, não jogue no rio sofá velho,
geladeira usada, vaso sanitário quebrado, litros, sacolas, cadeiras quebradas.
Eu, moradora ribeirinha as tenho visto boiando... Não nesses dias de inundação,
mas em dias que paro para um olhar crítico para o nosso rio Capinzal que
carrega em seu leito um pouco da história de nossa cidade. “E agora José, até
quando?!!!... (Professora Evani Riffel)
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